5. E Riobaldo começa a falar da Coragem





(Da série "Como João Guimarães Rosa pode mudar sua vida", parte 5).

(...) “Confesso. Eu cá não madruguei em ser corajoso; isto é: coragem em mim era variável. Ah, naqueles tempos eu não sabia, hoje é que sei: que, para a gente se transformar em ruim ou em valentão, ah basta se olhar um minutinho no espelho – caprichando de fazer cara de valentia; ou cara de ruindade!”
Pg. 46.


Aqui é possível fazer uma primeira distinção entre coragem, valentia e covardia.


Coragem é conseguir ultrapassar os receios quando se é fundamental tentar. O medo está presente na coragem e vem temperá-la, para que ela possa se equilibrar com a prudência. Coragem é seguir o ditado: “É hora de se usar a tática da gelatina: vai tremendo, mas vai”. A coragem remete, em sua etimologia, à palavra cordos, coração. E parece sugerir, desta forma, que inclui em si os sentimentos e emoções, e que está perturbado por estes não indica falta de coragem.


Coragem não é não sentir medo. Que mérito haveria em fazer algo sem nenhum resquício de medo? Em que precisei me superar, me alterar, para conseguir realizar, se não senti nenhum receio? O mérito está em sentir medo, mas sabendo ser importante, conseguir ultrapassá-lo e não paralisar.


Quando o medo toma a pessoa por inteiro, chegando a paralisá-la, estamos falando então da covardia. Está é quando a pessoa, diante da necessidade fundamental de tentar, se deixa imobilizar pelo medo. 


No polo oposto à covardia encontra-se a valentia, que é o agir intempestivo, sem nenhuma prudência. Essa valentia assustadora, aparentemente uma ação sem nenhum tipo de receio, na maior parte das vezes é justamente o contrario disto: é uma ação possuída pelo medo, agora já transformado muitas vezes em pânico. Esse tipo de ação, na maior parte das vezes, está direcionado ao fracasso.




Em postagem posterior, "E Riobaldo fala dos vários tipos de medo", baseado em um estudo de Maria Ângela Junqueira Reis, consideramos esse medo que, ou paralisa ou leva a valentia assustadora, fica melhor definido como temor. 


Então ficaria melhor se partíssemos do seguinte: quando se falar de coragem estamos também falando de medo. Quando se falar de valentia assustadora ou de covardia, estamos falando de temor, como tão bem esclareceu Maria Ângela.


Finalizando: As duas maiores coragens que se pode ter são a coragem de ser si mesmo e a coragem de amar.


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